Os altos índices de suicídios entre Médicos Veterinários

  • 03/02/2022

Os altos índices de suicídios entre Médicos Veterinários

Dentre os muitos preconceitos instalados na sociedade, a profissão de médico veterinário presencia diariamente a falta de valorização, em que na maioria das vezes, estes profissionais nem sequer são reconhecidos como médicos. Neste ínterim, vale lembrar que a medicina veterinária engloba o estudo de muitas espécies, algumas semelhantes, outras totalmente diferentes e isso requer muitas particularidades e muitos anos de estudo e dedicação. Sem contar, os densos anos de rotina médica, marcados por plantões exaustivos.

Os graduandos de Medicina Veterinária saem da faculdade com a missão de cuidar. São eles que estreitam os laços de confiança e estabelecem a comunicação entre o animal e seu dono. Imagine o peso da responsabilidade desse mediador que, às vezes, precisa ser o porta-voz do adeus e ter o poder da vida e da morte em suas mãos.

Um estudo elaborado por David Bartram, do Grupo de Saúde Mental da Universidade de Southampton School of Medicine (Inglaterra), concluiu que os médicos veterinários têm uma taxa de suicídio quatro vezes superior à população geral e duas vezes superior a outras profissões. Neste sentido, dados do SUS (Sistema Único de Saúde) revelam que os médicos veterinários apresentam uma taxa de 10,6 para 1 frente à população em geral para o risco de suicídio no Brasil.

Por conta da carga horária de trabalho extenuante, baixa remuneração e da pressão em lidar com vidas, muitos abandonam suas carreiras e entre os que ficam, muitos desenvolvem transtornos psicológicos. As maiores causas de suicídio entre esses profissionais são a Síndrome de Burnout e a Fadiga por Compaixão.

A Sídrome de Burnout ou Síndrome de Esgotamento Profissional é um distúrbio emocional causado pela exaustão extrema relacionada ao trabalho que gera impacto em todas as outras áreas da vida. Ela é resultado de estresse excessivo, tensão emocional e esgotamento físico em atividades que demandam muita responsabilidade e competitividade. E toda essa pressão acaba gerando muita ansiedade e nervosismo, podendo resultar em uma profunda depressão.

A Fadiga por Compaixão é a exaustão de trabalho em prol do próximo que muitos médicos veterinários sofrem quando optam por ajudar animais com tutores sem condições financeiras ou que não querem gastar com seus animais, muito comum no dia a dia da profissão. Segundo muitos profissionais, são investidos muitos anos na formação e carreira e muitas vezes não são reconhecidos no mercado de trabalho, principalmente em relação aos tutores que muitas vezes acreditam que esses médicos devem trabalhar apenas em troca de amor.

Vale ressaltar, que um dos agentes causadores tanto da Síndrome de Burnout quanto da Fadiga por Compaixão é o método de eutanásia utilizado em animais.

Outra situação causadora de estresse é o conhecimento de casos de maus tratos, que não poucas vezes acabam debatidos nos consultórios. Sem contar, que muitos veterinários, muitas vezes, por conta de situações delicadas, acabam exercendo a função de terapeutas, haja vista os casos em que o animal é a única companhia da pessoa -- e há imensos casos - e desenvolve-se ali uma grande carga psicológica quando esse animal sofre uma doença crônica ou terminal que vai levá-lo provavelmente a ser submetido a eutanásia.

Uma pesquisa, da VetsSurvey 2020, analisou os níveis de estresse na profissão veterinária em todo o mundo, revelando que no Brasil cerca de 79% dos profissionais se consideram estressados. De acordo com a pesquisa, os níveis de estresse variam em todo o mundo e aumentaram após a pandemia. Assim, por exemplo, os profissionais em Portugal (87%) e países americanos como Argentina (79%) e Estados Unidos (71%) mostraram percentuais elevados, enquanto Holanda ( 37%) e os países nórdicos (43%) são apresentados como os menos estressados. Uma das consequências do alto estresse está levando à escassez desses médicos veterinários em alguns países.

Por fim, fica evidente o quanto esses profissionais são confrontados com inúmeros focos de elevado desgaste emocional gerado, dentre muitos fatores, pelas precárias condições de trabalho, dificuldades relacionais e interpessoais, questões psíquicas da formação do profissional, culpa, medo de errar, cobrança constante para sempre estarem disponíveis, captação e consolidação de clientes, relação com a dor do animal e da família e a eutanásia legalizada. Sobre essas duas últimas temos o desdobramento para a Fadiga por Compaixão.

Por João Alexandre

Imagens: Internet

Referência: Associação Brasileira de Veterinários e Portal Pet


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